A escolha do espírito

A revelação do poeta Silva Ramos pode parecer absurda e até mesmo ofensiva para muitas pessoas. Pereceram na explosão do avião turco, sobre Paris, 345 pessoas. Três brasileiros estavam nesse número espantoso de vítimas. Como considerar todas elas criminosas, envolvidas em atos de pirataria? Convém lembrar que se trata de culpas remotas, de vidas anteriores.

Quem pode, na Terra, examinando suas próprias tendências atuais, considerar que há cinco séculos tenha sido uma criatura virtuosa, incapaz de ações criminosas? O espiritismo ensina que os espíritos escolhem e pedem as provas por que vêm passar na Terra. Outra dúvida se levanta, mas já a vemos registrada na questão 266 de O livro dos espíritos. Kardec perguntou: “Não parece natural que os espíritos escolham as provas menos penosas?” E os espíritos superiores responderam: “Para vós, sim, para o espírito, não.”

Nossas provas decorrem de nossa consciência. As leis de Deus, inscritas na consciência, levam o culpado a pedir o seu próprio castigo. Note-se a perfeição absoluta dessa justiça que não vem de fora, mas se processa de dentro para fora. O culpado é o seu próprio juiz, o mais severo dos juízes.

Por isso mesmo as provas mais graves não são imediatas. O espírito do culpado precisa amadurecer moralmente para sentir o aguilhão da consciência e obedecê-lo. As provas coletivas reúnem criaturas que nos parecem incapazes de haver cometido atrocidades.

Elas tiveram de atingir esse grau atual de evolução para terem a coragem heroica de submeter-se às expiações necessárias. Nessa perspectiva, como vemos, tudo se torna compreensível. As vítimas de hoje são almas purificadas que se redimem por vontade própria. Não são mais criminosas, são heroínas da evolução.

Silva Ramos usa o soneto para mostrar, numa síntese poética, o que podemos chamar de mecânica da prova. As ações do passado dão começo à culpa; os séculos de luz e treva desenvolvem os espíritos nas experiências dolorosas; e, por fim, a culpa se apaga na prova coletiva em que todos se reúnem. As lentas depurações individuais se conjugam, no final, para o resgate coletivo em que a culpa é liquidada.

Via herculanopires.org.br

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